
Minha mãe me emprestou um livro meses atrás. Chama-se O que Aprendi com Minha Mãe, organizado por Cristina Ramalho, que traz 52 depoimentos de personalidades a respeito de suas gloriosas genitoras. Gloriosas mesmo.
Há aquelas que criaram os filhos sem ter o que dar de comer, as que criaram sem a presença do pai, as que criaram a distância, as que criaram filhos que não nasceram do corpo delas. Mães sortidas, de tudo que é tipo e jeito.
Todas heróicas, todas fascinantes, todas possuidoras de garra e ternura, todas conhecedoras de truques infalíveis para fazer seus filhos se tornarem pessoas bacanas. E eles se tornaram.
Os depoimentos são de Arnaldo Jabor, Contardo Calligaris, Maria Adelaide Amaral, Marta Goes, Soninha Francine, Supla, Cleyde Yáconis e outros vitoriosos.
Ainda que não seja um livro de humor, dei algumas gargalhadas por causa dele. Não durante a leitura, que é realmente tocante, há relatos que comovem. Ri muito foi ao devolver o livro para minha mãe.
Ela me perguntou: "E então, o que você achou?". Respondi: "Maravilhoso. Só que estou pensando em me atirar do 10º andar. Descobri que sou uma droga de mãe". E ela: "Me espera que vou saltar junto".
Já escrevi mais de uma crônica sobre minha mãe. Ela sabe que não tem motivos para se julgar severamente, é uma mulher singular, não há quem não a admire e adore, incluindo seus dois filhos, meu irmão e eu.
Mas se um dia minhas filhas tiverem que escrever sobre mim, pobre delas. Não que eu seja uma mãe relapsa, tirana, fria e desapegada. Longe disso. Só que sou uma mãe... oh, dor... uma mãe comum.
Há quase 16 anos no ramo da maternidade, com duas experiências bem-sucedidas até aqui, me pergunto: o que fiz que merecesse ficar como exemplo para a posteridade? Ok, passei noites em claro, troquei muitas fraldas, levei e busquei do colégio umas 3 mil vezes - e ainda sigo na função.
Fui a festinhas de aniversário barulhentas, passei fins de semana em pracinhas, ensinei a andar de bicicleta, levei a livrarias e cinemas, fiz vários curativos, impus limites, disse "não" quando era preciso e até quando não era preciso. Nada que uma mãe média também não faça.
O que elas aprenderam comigo? A devolver o que não é seu, a dizer a verdade, a ser gentil, a não depender demais dos outros, a aceitar que as pessoas não são todas iguais e que isso é bom. Nem mesmo as mães são todas iguais, contrariando o famoso ditado.
Há as que se sacrificaram, as que abriram mão de sua felicidade em troca da felicidade dos filhos, as que mantiveram casamentos horrorosos para não fazê-los sofrer com um lar desfacelado, as que trabalharam insanamente para não faltar nada em casa, as que sangraram por dentro e por fora para manter a família de pé.
Eu não fiz nada disso. Por sorte, a vida não me exigiu nenhuma atitude sobre-humana. Fui e sigo sendo uma mãe bem normalzinha.
Que acerta, que erra, que faz o melhor que pode. Em comum com as supermães, apenas o amor, que é sempre inesgotável. Mas, medalha de honra ao mérito, não sei se mereço.
Não me julgo sacrificada e tampouco sublime. Sou uma mulher que teve a sorte de ter a Julia e a Laura, uma mulher que se equilibra entre dúvidas e certezas e que consegue tirar um saldo positivo desta adorável bagunça.
Então, deixo aqui registrado para todas as mães: feliz dia. Tanto pra você que é super, quando pra você que não é 100% mas também faz o melhor que pode, já que o nosso melhor, por menor que seja, sempre é muito.
(Martha Medeiros)
Texto lindo!!! É esse tipo de mãe que quero ser: NORMAL! :P
ResponderExcluirNão precisa ser super pra ser uma mãezona! :)
Lindo texto!!
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