segunda-feira, 3 de maio de 2010

Supermães e mães normais

Se um dia minhas filhas tiverem que escrever sobre mim, pobre delas. Não que eu seja uma mãe relapsa. Só que sou uma mãe comum

Minha mãe me emprestou um livro meses atrás. Chama-se O que Aprendi com Minha Mãe, organizado por Cristina Ramalho, que traz 52 depoimentos de personalidades a respeito de suas gloriosas genitoras. Gloriosas mesmo.

Há aquelas que criaram os filhos sem ter o que dar de comer, as que criaram sem a presença do pai, as que criaram a distância, as que criaram filhos que não nasceram do corpo delas. Mães sortidas, de tudo que é tipo e jeito.

Todas heróicas, todas fascinantes, todas possuidoras de garra e ternura, todas conhecedoras de truques infalíveis para fazer seus filhos se tornarem pessoas bacanas. E eles se tornaram.

Os depoimentos são de Arnaldo Jabor, Contardo Calligaris, Maria Adelaide Amaral, Marta Goes, Soninha Francine, Supla, Cleyde Yáconis e outros vitoriosos.

Ainda que não seja um livro de humor, dei algumas gargalhadas por causa dele. Não durante a leitura, que é realmente tocante, há relatos que comovem. Ri muito foi ao devolver o livro para minha mãe.

Ela me perguntou: "E então, o que você achou?". Respondi: "Maravilhoso. Só que estou pensando em me atirar do 10º andar. Descobri que sou uma droga de mãe". E ela: "Me espera que vou saltar junto".

Já escrevi mais de uma crônica sobre minha mãe. Ela sabe que não tem motivos para se julgar severamente, é uma mulher singular, não há quem não a admire e adore, incluindo seus dois filhos, meu irmão e eu.

Mas se um dia minhas filhas tiverem que escrever sobre mim, pobre delas. Não que eu seja uma mãe relapsa, tirana, fria e desapegada. Longe disso. Só que sou uma mãe... oh, dor... uma mãe comum.

Há quase 16 anos no ramo da maternidade, com duas experiências bem-sucedidas até aqui, me pergunto: o que fiz que merecesse ficar como exemplo para a posteridade? Ok, passei noites em claro, troquei muitas fraldas, levei e busquei do colégio umas 3 mil vezes - e ainda sigo na função.

Fui a festinhas de aniversário barulhentas, passei fins de semana em pracinhas, ensinei a andar de bicicleta, levei a livrarias e cinemas, fiz vários curativos, impus limites, disse "não" quando era preciso e até quando não era preciso. Nada que uma mãe média também não faça.

O que elas aprenderam comigo? A devolver o que não é seu, a dizer a verdade, a ser gentil, a não depender demais dos outros, a aceitar que as pessoas não são todas iguais e que isso é bom. Nem mesmo as mães são todas iguais, contrariando o famoso ditado.

Há as que se sacrificaram, as que abriram mão de sua felicidade em troca da felicidade dos filhos, as que mantiveram casamentos horrorosos para não fazê-los sofrer com um lar desfacelado, as que trabalharam insanamente para não faltar nada em casa, as que sangraram por dentro e por fora para manter a família de pé.

Eu não fiz nada disso. Por sorte, a vida não me exigiu nenhuma atitude sobre-humana. Fui e sigo sendo uma mãe bem normalzinha.

Que acerta, que erra, que faz o melhor que pode. Em comum com as supermães, apenas o amor, que é sempre inesgotável. Mas, medalha de honra ao mérito, não sei se mereço.

Não me julgo sacrificada e tampouco sublime. Sou uma mulher que teve a sorte de ter a Julia e a Laura, uma mulher que se equilibra entre dúvidas e certezas e que consegue tirar um saldo positivo desta adorável bagunça.

Então, deixo aqui registrado para todas as mães: feliz dia. Tanto pra você que é super, quando pra você que não é 100% mas também faz o melhor que pode, já que o nosso melhor, por menor que seja, sempre é muito.

(Martha Medeiros)

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